O grande patrimônio de qualquer empresa são as pessoas, os talentos
diferenciados que imprimem sua marca em qualquer atividade que executam.
O sucesso de qualquer projeto depende invariavelmente do
comprometimento, empenho e dedicação de indivíduos determinados a
conquistar o melhor resultado possível.
Como senso comum, não basta as empresas investirem os melhores
recursos tecnológicos e volumosas somas de dinheiro, como condição única
de alcançar seus objetivos. Essas duas condições, obviamente
relevantes, sem o grupo certo de pessoas para executar e garantir a
realização das ações e tarefas do plano estratégico, não serão
suficientes para assegurar que os objetivos sejam atingidos.
Eu gosto muito de fazer uma analogia com o futebol do passado: Na
minha época de adolescente torcedor, um craque (que é a maneira como
chamamos um “talento” no futebol) fazia sua carreira inteira num mesmo
time – O Pelé teve sua fama e imagem associada ao Santos, o mesmo valeu
para o Rivelino com o Corinthians, o Ademir da Guia com o Palmeiras e o
Zico com o Flamengo.
Os “talentos” nasciam, evoluiam e se consagravam num único time
(empresa). Não havia naquela época a caça voraz por “talentos” alheios.
Os tempos mudaram. Hoje a urgência na execução e atingimento de
resultados adicionou um componente novo nas dificuldades enfrentadas
pelas empresas em sua busca pelo sucesso: a caça aos talentos (atividade
batizada pelos americanos de Head Hunter). Atualmente é prática
corriqueira no mundo empresarial, a tática de atrair talentos alheios já
preparados e qualificados, para suprir a demanda por capital
intelectual.
O grande desafio das empresas, e dos distribuidores de TI, ao
enfrentarmos esse drama talvez de forma mais acentuada, uma vez que
nosso setor requer altos índices de especialização técnica, é o de
conciliar o investimento em qualificação de profissionais
(indiscutivelmente essencial aos negócios) e os programas de retenção de
talentos, com os ataques, nem sempre éticos de concorrentes e
fornecedores, em busca de recursos preparados e prontos para operar com
altos graus de produtividade.
A formação de mão de obra especializada é um processo lento,
permanente e invariavelmente de alto custo. Suportar a formação de um
profissional desde os estágios iniciais de sua carreira até o
atingimento de sua plenitude operacional requer diversas etapas que não
podem ser encurtadas. Do ponto de vista logístico, cada novo curso,
treinamento, seminário ou congresso que determinado empregado da empresa
venha a participar, requer uma anterioridade, que lhe cria os
pré-requisitos para mudar de fase. Tão simples quanto para frequentar
uma universidade, uma pessoa precisa formalmente concluir o ensino
secundário.
Porém, diferentemente da formação acadêmica que provê ao indivíduo
uma formação generalista, que servirá de base para a sua futura
especialização, a qualificação do profissional dentro das empresas,
encaminha o individuo rumo à alta especialização, ao conhecimento focado
voltado à alta produtividade.
E é com esse investimento que as empresas devem se preocupar. Um
profissional bem qualificado é tão relevante para a execução das
estratégias empresariais quanto a mais moderna tecnologia. Ao realizar a
aquisição de dada tecnologia, as empresas adicionam um ativo em seu
patrimônio, de maneira similar a aquisição de um bem imóvel.
O investimento na qualificação de profissionais é tratado como
despesa e torna-se patrimônio intelectual do indivíduo e não da empresa.
Essa lógica só é revertida com programas de retenção de talentos,
através dos quais as empresas criam mecanismos de fidelização de seus
empregados, objetivando aumentar a longevidade desses recursos na
empresa.
Essa equação não é simples, uma vez que ela deve atender de forma
eficiente, os objetivos da empresa, tais como, tecnológicos, econômicos e
estratégicos, e conciliá-los aos anseios do individuo, tipo, bem estar,
estabilidade financeira e realização pessoal.
Focando a discussão na distribuição de TI, a necessidade de
qualificar profissionais estratégicos a nossa atividade é fundamental. É
impossível imaginar um distribuidor de TI sem especialistas de
produtos, sem vendedores permanentemente treinados e reciclados, sem
analistas de pré e pós venda, sem técnicos em tecnologia da informação,
engenheiros de hardware e software, só para relacionar alguns cargos e
funções essenciais à execução do negócio.
Nenhum desses profissionais vem prontos. Não existem faculdades nem
cursos preparatórios de especialistas de produtos, nem de vendedores de
TI. Esses recursos têm de ser treinados e formados dentro das próprias
empresas.
Cumprindo todo ciclo e ritual já abordado acima, é fácil supor que os
investimentos realizados na formação desses profissionais, não
conseguem ser amortizados em curto prazo. É extremamente importante que
cada um desses profissionais treinados, qualificados e produtivos
permaneça na empresa por tempo suficiente, não só para permitir o
equilíbrio entre investimento x retorno, quanto para assegurar que todo
esse potencial intelectual fique a serviço da empresa que o viabilizou.
Por isso a migração sem regras e sem respeito, de profissionais entre
empresas de um mesmo setor, concorrentes ou fornecedoras, tem efeito
muito negativo nas políticas de qualificação e retenção de talentos,
muitas vezes criando fatores inibidores dentro das empresas, o que, em
última instância acaba instituindo um verdadeiro círculo vicioso entre a
efetiva necessidade de se investir em qualificação e programas de
retenção, e o risco de se investir e transferir o fruto do investimento,
sem ter necessariamente usufruído de todos os benefícios esperados.
Às vezes sinto saudades dos “craques” de um time só do passado, mas
aceito o fato de que vivemos novos tempos, que têm demandas e
expectativas diferentes e, precisam ser encarados pragmaticamente dessa
forma. Hoje em dia, bons profissionais são menos longevos na história
das empresas e, de certa forma, desde que de maneira ética, a
alternância de recursos humanos entre empresas, as força a sair de suas
“zonas de conforto” e manter uma atitude alerta com relação à
preservação de seu principal patrimônio intelectual: As pessoas.
Fonte:
http://www.tiespecialistas.com.br/2012/04/qualificacao-de-profissionais-e-retencao-de-talentos-como-minimizar-a-migracao-e-perda-de-recursos/
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